terça-feira, 19 de agosto de 2008



..."Tenta fazer esta experiência, construindo um palácio. Equipa-o com mármore, quadros, ouro, pássaros do paraíso, jardins suspensos, todo o tipo de coisas... e entra lá para dentro. Bem, pode ser que nunca mais desejasses sair daí.

Talvez, de fato, nunca mais saisses de lá. Está lá tudo! 'Estou muito bem aqui sozinho!'.

Mas, de repente - uma ninharia! O teu castelo é rodeado por muros, e é-te dito: 'Tudo isto é teu! Desfruta-o! Apenas não podes sair daqui!'. Então, acredita-me, nesse mesmo instante quererás deixar esse teu paraíso e pular por cima do muro. Mais! Tudo esse luxo, toda essa plenitude, aumentará o teu sofrimento. Sentir-te-ás insultado como resultado de todo esse luxo... Sim, apenas uma coisa te falta... um pouco de liberdade.


"Quanto mais gosto da humanidade em geral, menos aprecio as pessoas em particular, como indivíduos".


segunda-feira, 18 de agosto de 2008


TRECHOS DE "A METAMORFOSE"
Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.
Que me aconteceu ? - pensou.
Não era nenhum sonho.
O quarto, um vulgar quarto humano, apenas bastante acanhado, ali estava, como de costume, entre as quatro paredes que lhe eram familiares. Por cima da mesa, onde estava deitado, desembrulhada e em completa desordem, uma série de amostras de roupas: Samsa era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia que recentemente recortara de uma revista ilustrada e colocara numa bonita moldura dourada.
KAFKA

sexta-feira, 15 de agosto de 2008


"... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la..." (Perto do Coração Selvagem - p.55)



Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser...

Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhece; e a subjetiva...

Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!!

Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser...


Clarice Lispector

quinta-feira, 14 de agosto de 2008


Wim Mertens


WiM Mertens é um músico belga, que lançou o primeiro disco no início dos anos 80. No Brasil ele é conhecido pela trilha dos filmes de Marcelo Masagão


Sua música é intensa, de fazer transbordar


Muitas vezes nos remete a crises de existência, mas que são de suma importância.vou deixar um poema de Clarice que complementa perfeitamente a esse gênio da música


"Minha alma tem o peso da luz.

Tem o peso da música.

Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita.

Tem o peso de uma lembrança.

Tem o peso de uma saudade.

Tem o peso de um olhar.

Pesa como pesa uma ausência.

E a lágrima que não se chorou.

Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."


Clarice Lipector



"Não há grandes dores em grandes arrependimentos, nem grandes recordações.Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores.

É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida.

Há apenas uma certa maneira de ver as coisas e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida.

Isso constitui pelo menos um álibi para o despero sem razão que se apoderam de nós."

- A Morte Feliz -

"Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida".


Albert Camus 1913-1960


Eu amo Cecília Meireles seus poemas nos transporta para algo que so quem viveu sabe

serve para mim, para você..enfim sempre para o mundo.



Lua adversa


Tenho fases, como a lua.

Fases de andar escondida,fases de vir para a rua..

Perdição da minha vida!

Tenho fases de ser tua,tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêmno secreto calendárioque um astrólogo arbitrárioinventou para meu uso.

E roda a melancoliaseu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém(tenho fases, como a lua)

No dia de alguém ser meunão é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,o outro desapareceu...


Cecília Meireles

terça-feira, 12 de agosto de 2008


Não sei voar....


Do pequeno vão da minha janela, vejo um simples raio de sol
que por muitas vezes parece ser uma passagem para um novo mundo
mas se é apenas isto, por que tanto fazer?

Se o que quero são placas invertidas para que eu possa voar mundos e deixar rastros
cravados na terra e que a chuva regue-os e deixe-os voar para uma fuga complexa mas que de grande satisfação sem medo dos grande ventos, pois tudo passará.Mas minha alma será incompáravel........

Ale Marchesini

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Não sei dançar

Uns tomam éter, outros cocaína.Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.Tenho todos os motivos menos um de ser triste.Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...Abaixo Amiel!E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.Perdi a saúde também.É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz band.Uns tomam éter, outros cocaína.Eu tomo alegria!Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.Mistura muito excelente de chás...Esta foi açafata...- Não, foi arrumadeira
Não, foi arrumadeira.E está dançando com o ex-prefeito municipal:Tão Brasil!De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarelaNa figura de um japonês.O japonês também dança maxixe:Acugelê banzai!A filha do usineiro de CamposOlha com repugnânciaPara a crioula imoral,No entanto o que faz a indecência da outraÉ dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...Mas ela não sabe...Tão Brasil!Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...O algodão do Seridó é o melhor do mundo?...
Que me importa?Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!

Manuel Bandeira....(Petrópolis, 1925)