sexta-feira, 31 de julho de 2009
sexta-feira, 24 de julho de 2009
SHORTBUS
Ficha Técnica
terça-feira, 21 de julho de 2009
Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo,
domingo, 19 de julho de 2009
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Que faria eu sem este mundo sem rosto sem questões
Quando o ser só dura um instante onde cada instante
Se deita sobre o vazio dentro do esquecimento de ter sido
Sem esta onda onde por fim
Corpo e sombra juntos se dissipam
Que faria eu sem este silêncio abismo de murmúrios
Arquejando furiosos em direcção ao socorro em direcção ao amor
Sem este céu que se eleva
Sobre o pó dos seus lastros
Que faria eu eu faria como ontem como hoje
Olhando para a minha janela vendo se não serei o único
A errar e a mudar distante de toda a vida
preso num espaço-marioneta
Sem voz entre as vozes
Que se fecham comigo.
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Samuel Beckett
(tradução de Tiago Nené)
(tradução de Fernando Pessoa)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,E já quase adormecia, ouvi o que pareciaO som de algúem que batia levemente a meus umbrais.“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.É só isto, e nada mais.”
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dadaP’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxoMe incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.É só isto, e nada mais”.
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.Isso só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela.Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.“É o vento, e nada mais.”
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amarguraCom o solene decoro de seus ares rituais.“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”Disse o corvo, “Nunca mais”.
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.Mas deve ser concedido que ninguém terá havidoQue uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,Com o nome “Nunca mais”.
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamentoPerdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos – mortaisTodos – todos já se foram. Amanhão também te vais”.Disse o corvo, “Nunca mais”.
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandonoSeguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de aisEra este “Nunca mais”.
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneiraQue qu’ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,Com aquele “Nunca mais”.
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendoÀ ave que na minha alma cravava os olhos fatais,Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinandoNo veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incensoQue anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-teO esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atraisSe há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vidaVerá essa hoje perdida entre hostes celestiais,Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse. “Parte!Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”Disse o corvo, “Nunca mais”.
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está aindaNo alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,Libertar-se-á… nunca mais!
segunda-feira, 13 de julho de 2009
O ÚLTIMO ANDAR
No último andar é mais bonito:do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.
O último andar é muito longe:custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.
Todo o céu fica a noite inteirasobre o último andar.
É lá que euquero morar.
Quando faz lua, no terraçofica todo o luar.
É lá que eu quero morar.
Os passarinhos lá se escondem,para ninguém maltratar:no último andar.
De lá se avista o mundo inteiro:
Tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:no último andar.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
(Reportagem sobre o universo clown, onde faço uma pequena participação)
É por ser ridículo, que eu sou um clown!Na mais bela forma do existir, o clown se destaca.
Por três fatores: Ele é sempre verdadeiro, real e autêntico.Para Fellini, "o clown representa uma situação de desnível, de inadequação do ser humano frente à vida. Através dele exorcizamos a nossa impotência, as nossas contradições e, principalmente, a luta ridícula e desproporcional contra os fantasmas de nosso egoísmo, de nossa vaidade e da nossa ilusão”.Ele passa do riso ao choro, sem pensar; o que importa é satisfazer as suas necessidades internas. Sua satisfação imediata é a de estar sempre alegre, feliz com as coisas conquistadas. É como uma criança, chora e esbraveja se não consegue o que quer, mas vibra de alegria ao conquistar, segundo Burnier.
Permita-se.
Seja ridículo você também!
sábado, 4 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
A CHEGADA DA CAIXA DE ABELHAS
Encomendei esta caixa de madeiraClara, exata, quase um fardo para carregar.Eu diria que é um ataúde de um anão ou De um bebê quadradoNão fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.Está trancada, é perigosa.Tenho de passar a noite com ela eNão consigo me afastar.Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.Espio pela grade.Está escuro, escuro.Enxame de mãos africanas Mínimas, encolhidas para exportação,Negro em negro, escalando com fúria.Como deixá-las sair?É o barulho que mais me apavora,As sílabas ininteligíveis.São como uma turba romana,Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!Escuto esse latim furioso.Não sou um César.Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.Podem ser devolvidos.Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.Me pergunto se têm fome.Me pergunto se me esqueceriamSe eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.Há laburnos, colunatas louras, Anáguas de cerejas.Poderiam imediatamente ignorar-me.No meu vestido lunar e véu funerárioNão sou uma fonte de mel.Por que então recorrer a mim?Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.A caixa é apenas temporária